Entre o Natal e o final do ano

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Entre o Natal e o final do ano

Esta é aquela semana em que muitos se sentem meio perdidos. Depois de injeções de Natal desde o início de novembro (a cada ano que passa, os cânticos de Natal invadem as lojas mais cedo), de repente entramos na terra de ninguém. Horas a comprar presentes, a embrulhá-los, a programar viagens, comidas ou quem vai estar. A prepararmo-nos para as conversas do costume ou as emoções boas da hora. Para ver as birras dos garotos, mas também a felicidade a cada papel rasgado. Para uns a maravilha de ver a família, para outros o frete de o fazer. E para muitos uma mistura de tudo isto.

E a seguir vem o fim do ano: temos só mais uns dias para rever o ano, pensar no próximo. Que quis eu fazer e o que ficou pelo caminho? O que poderia ter feito? O que quero para o próximo ano? E mais uma enchente de planos para viagens, comidas e convivas para a festa do *bum* final. E por muito que não queiramos pensar muito nisso, surgem *pop-ups* por todo o lado: nas redes sociais, nas lojas, nos anúncios na televisão.

E por muito que nos queiramos desviar de tudo isto, a verdade é que na nossa sociedade há uma explosão de informação relacionada com o Natal e o final do ano. E há uma mensagem que passa, desde a comunicação social à rede social: o que estás a fazer neste Natal? Que presentes vais comprar / receber? Onde vais passar a magnífica noite de fina do ano? Estarás tu a par do que o mundo está a fazer? Estás na última *trend*? Crescem as expetativas sobre o que poderão ser estes eventos. Mas a expetativa é a mãe da desilusão. E a realidade das nossas vidas não cabe num ecrã de poucas polegadas.

Como podemos ficar no meio de tudo isto senão exaustos, a sentir que não damos o suficiente ou emocionalmente atropelados? Como podemos não nos sentir aquém, que não fazemos parte ou que não somos suficientemente bons? Esta é, sem dúvida, uma das alturas do ano mais exigentes a nível psicoemocional. Não para todos é óbvio, e como em tudo. Para alguns são as férias do verão ou datas importantes. Mas para uma grande fatia da população, e principalmente a que vive no hemisfério norte, esta altura, associada às noites grandes, dias mais pequenos, e eventualmente sombrios, é uma fase desafiante.

Como lidar?

Não há uma receita mágica que caiba nas mãos de todos, mas existem algumas possibilidades que poderão fazer algum sentido:

  • Minimizar as expetativas

Esperar que seja tudo perfeito pode ser irrealista. Mas as expetativas não são só achar que vai ser tudo perfeito. É também quando criamos uma ideia de como vão acontecer os eventos, os encontros. No fundo fazemos um filme de como tudo vai correr, o que nos leva ao próximo tópico.

  • Gerir a ansiedade

Muitas vezes estes filmes são feitos para termos uma falsa sensação de controlo. E o que está por detrás da necessidade de controlo é a ansiedade. A ansiedade é a antecipação de uma possível ameaça. Trabalha no campo do “e se” e em alguns casos atinge níveis de sofrimento muito elevados. Nesses casos o melhor é o acompanhamento com um psicoterapeuta ou mesmo de um médico. Mesmo em casos não tão graves, ter ansiedade pode afetar as várias áreas da vida. Ter hobbies que nos dão prazer, aprender a respirar profundamente ou meditar são algumas atividades que podem ajudar, tal como o exercício. Gerir melhor horários ou organizar melhor os dias para equilibrar as atividades mais e menos prazerosas também é uma boa opção.

  • Gerir significados

O que é para ti o Natal? E é mesmo o que é para ti ou o que é para a tua família? Ou será que é o socialmente desejável? Como é queres que seja o teu Natal? Ou o final do ano? É mesmo este último dia, o dia da tua transição de ano? Começa por identificar o que queres para ti nesta época. Mesmo que não seja o mesmo das pessoas que estão à tua volta, tenta encontrar tempo ou espaço para pores em prática o que queres fazer. Se calhar não é possível ir duas semanas para as caraíbas, mas será que consegues tirar um tempo nesses dias para fazeres algo que gostas muito de fazer?

  • Colocar limites naquilo que posso fazer

Esta altura do ano é para muitos a fase das correrias, sem referir deadlines no trabalho. Sobre muitos recai a responsabilidade das comidas, da compra dos presentes, organizações, festas de Natal, jantares de amigos, festas das crianças (com uma série de pedidos estranhos de peças de roupa por parte das escolas). Muitos vezes achamo-nos invencíveis, mas isso da invencibilidade é para os super-heróis (até ao momento ainda não conheci nenhum) e por isso, invariavelmente, vai chegar o dia da rutura. Então, antes de chegar aí, gerir muito bem as fronteiras do que podemos e conseguimos fazer. Deixo-vos aqui duas formas que podem ajudar: aprender a dizer “não” e delegar! Não tens de fazer tudo, pede ajuda. Deixa que aquela tia traga o seu pudim, deixa a criança pôr a mesa, mesmo que fique tudo torto.

Como em tudo: equilíbrio

E nesta época do ano, não há nada mais importante do que um equilíbrio que traga tranquilidade e a possibilidade de estarmos mais presentes.

E se o sofrimento é grande, a par dos desafios: peçam ajuda. Procurem um psicoterapeuta, falem com o vosso médico ou liguem para a linha da saúde 24 (808242424). Porque se existem muitas pessoas a viver tudo isto, também existem muitas outras que vivem uma mão cheia de nada, num vazio interno de sentido e numa perda total de esperança. E mesmo que não seja o teu caso, podes sempre perguntar à pessoa ao teu lado se está tudo bem.

Boas transições!

Foto de Cristian Escobar em Unsplash

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