Vergonha

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Vergonha

Quem é que nunca se sentiu envergonhado? A vergonha é uma emoção social, ou seja, tem a ver com o outro. É uma emoção relacionada com a forma como consideramos que esse outro (ou outros) nos perceciona. É de facto uma emoção complexa e que pode ser muito desafiante para quem a experiencia com frequência e intensidade. Surge muitas vezes quando a pessoa pensa que não se comportou de uma forma que era esperada pelo outro ou pela sociedade. Quando esse outro ou sociedade nos devolve ativamente esse julgamento, isso vai contribuir para este sentimento de vergonha. mesmo que este não venha, nós podemos ter receio de que isso aconteça: “será que viram? O que vão dizer? Ai, o  e será que estão a pensar!?”

No entanto, e como em todas as emoções, a vergonha é adaptativa, ou seja, foi desenvolvida ao longo da nossa evolução com um intuito relacionado com a nossa sobrevivência. No caso da vergonha, e de um ponto de vista saudável e adaptativo, ela serve para nos ajustarmos às normas sociais da cultura em que vivemos. E claro, vão existir comportamentos que podem despoletar vergonha numa cultura, mas noutra não. Então, a vergonha faz parte da condição humana e geri-la bem é essencial para nos sentirmos bem.

Que consequências?

O sentimento de vergonha pode ter consequências graves nos pensamentos, na autoestima (que advém da presença da crítica, interna ou externa) e no comportamento. Em relação ao comportamento, a  vergonha pode nos fazer perder oportunidades porque  a fuga dessas sensações pode levar ao evitamento de determinadas situações. Estas passam principalmente no evitamento de contacto com os outros, mas também nos podem levar a comportamentos mais defensivos. Seja no evitamento ou na defesa, vai haver um fechamento: eu fecho-me ao mundo para não sentir vergonha. O problema destas estratégias comportamentais é que a vergonha não se resolve e acabamos por desperdiçar muitas coisas na vida.

Em relação aos pensamentos, estes vão ser marcadamente críticos: uma voz de autoridade interna que é exigente e que nos vai apontar essas *eventuais* falhas. Ao serem pensamentos negativos, críticos e intrusivos (surgem intensamente, sem convite), vão provocar sofrimento, ampliando emoções negativas, e podem levar muitas vezes à ampliação ou surgimento de estados depressivos e de ansiedade.

O impacto na autoestima é direto: se eu me envergonho e acho que não fiz o que era esperado, fico numa posição de vulnerabilidade, sentindo-me inadequada/o e promovendo a desvalorização pessoal. Surgem pensamentos e crenças como: “não valho nada; nunca sou suficiente; não sei fazer as coisas”, entre outros.

E o que fazemos?

Trabalhar no nosso conhecimento pessoal ajuda em qualquer questão que tenhamos e o caso da vergonha não é exceção. É conhecendo bem os gatilhos que nos fazem sentir vergonha e as nossas estratégias para lidar com ela que podemos começar a trabalhar! E este trabalhar implica perceber de onde vem esta voz de intolerância e critica e ir questionando, pondo em causa e alterando essa narrativa.

No caso de existirem muitos comportamentos evitantes ou de defesa, é importante criar estratégias mais saudáveis (o tal do coping positivo) e isto pode incluir a vivência de algum desconforto. No entanto, mais do que nos atirarmos para situações onde nos sentimos mal, vamos tentar descobrir algo que possamos ir alterando pouco a pouco, numa perspetiva de sair um momentaneamente da zona de conforto, mas sem ir para muito longe. Estes processos requerem algum desconforto e alguma dose de insegurança, mas sem ir longe demais.

Como sempre e em tudo, em casos mais complexos, disfuncionais ou de grande sofrimento e intensidade, nada como procurar a ajuda profissional de um psicólogo ou psicoterapeuta.

Foto de Priscilla Du Preez 🇨🇦 em Unsplash

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