Ouvi esta frase em espanhol, pela voz de uma professora minha: sin prisa, pero sin pausa. Fiquei com ela no ouvido. Fui repetindo para mim e para os meus clientes. Sin prisa, pero sin pausa. Há um quê de poético nela. Os “pês” os “esses”. E há também uma luz que se acende, um sentido que se toma: a pressa é o meu nome do meio e parar não está no dicionário. Então a frase iluminou uma nova possibilidade: abrandar. Significava que teria de abdicar das pressas, mas não teria de parar. Era sin pausa. Fazia-me sentido, fazia-me sentir.
Estar com pressa pode ter várias explicações, desde atrasos, horários muito cheios ou então, como me acontece a mim, ser algo inerente à minha forma de ser. Apesar de estar em abrandamento, lembro-me dos dias das corridas internas onde a pressa de chegar, fazer, terminar era apenas minha. De onde viria isto? Lembro-me de andar a pé com a minha avó e irmã e de irmos as duas a correr para acompanhar o passo largo da avó. Seria daí? Será de facto algo genético? E neste caso ambiental, já que o contexto me ensinou que tenho de ir rápido? Ou será que a ir depressa para algum lado ou estar ocupada a fazer alguma coisa me permitia fugir de alguma coisa?
Ir sem pressa, mas sem pausa, permite-nos afinar os sentidos:
- Ouvimos melhor os outros, mas também nos ouvimos mais e melhor. Sem a distração da pressa o ruído interno e externo diminui. Estamos mais centrados e por isso o barulho alheio e da nossa mente tagarela baixa de intensidade.
- Vemos para além daquilo que é óbvio e que está à nossa frente, mas também vemos melhor para dentro de nós. Se vamos mais devagar, vemos melhor as paisagens, sejam elas externas ou internas. Conseguimos aceder a lugares novos, pois se vamos sem pressa podemos até experimentar outros caminhos, sem tomar atalhos. Podemos ver mais além, reajustar o percurso ou reinventá-lo.
- Saboreamos cada pitada da vida com uma intensidade diferente. Se estamos mais presentes, neste abrandar, conseguimos retirar o sabor a cada ingrediente, a cada momento de nutrição.
- Cheiramos as flores, o ar mais húmido ou mais seco, as estações ou a terra molhada depois de uma primeira chuva. Deixamo-nos levar pelos perfumes com mais facilidade e deixamo-nos encantar com uma serenata de essências.
- Tateamos a vida com detalhe e não aos empurrões. Sentimos o frio na pele arrepiada sem ter pressa de pôr um casaco ou aquecer nas correrias. Deixamos o sol nos tocar e deixamos que o toque do outro nos aqueça a pele.
É ir sem pressa, reinventando percursos, estimulando os sentidos e observando e ajustando tudo pelo caminho. Sem pausa.
Foto de Nazym Jumadilova em Unsplash