Relações Des-relacionadas
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Relações Des-relacionadas

Conhecemos muitas pessoas que perpetuam relações que aos nossos olhos não fazem sentido. Pior é quando percebemos que essa pessoa somos nós e que também fazemos parte daquilo que tanto apontamos no outro. Quantas vezes já sentiste que estavas na relação errada e não “saltaste fora”? Será que neste preciso momento estás numa relação que não te faz bem, mas da qual não consegues sair ou encontrar uma saída para que ambos sejam felizes? São relações des-relacionadas, nas quais há uma relação, mas na verdade e profundamente há uma cisão dentro do casal.

Infelizmente este é um rema recorrente nos relacionamentos. É claro que todos temos os nossos timings e saber exatamente quando sair de uma relação que não nos faz bem é difícil. Se ficarmos pouco tempo, será que é alguma resistência, será que devíamos dar uma oportunidade e aprender mais nesta relação? Se ficarmos tempo demais, quais as consequências, para além do tempo que passou? Temos de nos questionar: até quando estar nesta relação é uma aprendizagem e a partir de quando é “masoquismo”? Não há um número de meses ou anos que possam ser atribuídos, nem mesmo uma média. Somos todos únicos, particulares e dentro do contexto relacional com outro ser único. Assim sendo tudo fica mais complexo e específico. Saber até quando a insatisfação ou infelicidade numa relação é aprendizagem exige saber de facto o que podemos aprender.

5 Motivos

Desta forma queria falar de cinco motivos principais pelos quais é tão difícil acabar ou sair de uma relação. Haverão certamente mais, mas deixo-vos os principais que podem estar interligados.

  1. Envolvimento emocional

Já ouvi muitas vezes a frase: o amor não foi suficiente. Esta frase é aplicada quando o amor que se sente pela outra pessoa não chega para fazer face às dificuldades de estar em relação. Mas a balança pode pender para o amor e aí, se gostamos do outro, como sair da relação? É mais desafiante sair de uma relação quando estamos emocionalmente muito envolvidos, ou seja, sentimos amor, carinho ou afeto pela outra pessoa. Vamos incluir aqui também o sentir “pena”. E este é um peso pesado que é difícil de enfrentar, mesmo quando já não sentimos amor pela outra pessoa. Quando o nosso par tem uma história difícil ou está a passar por momentos complicados, acabamos por ser mais compassivos, tornando-se muito desafiante “saltar fora”. Não queremos magoar o outro nem trazer mais um “problema” para a sua vida. Mais difícil é quando em cima de tudo isto o outro manipula a verdade e fica num papel de vítima, fazendo-te sentir a pior pessoa do mundo.

  1. Carência

Quando estamos carentes ficamos mais inseguros e procuramos no outro algo que preencha o vazio que sentimos. Aqui importa conhecermos bem os nossos cantos e saber a origem desta carência. A carência pode surgir a par da dependência, que falo mais à frente, pois se estamos carentes, ficamos emocionalmente dependentes do afeto, atenção ou carinho de outra pessoa. É como se tivéssemos dentro de nós um saco roto, que por mais afeto que receba, nunca ficará cheio e nunca sentiremos satisfação. Num outro nível, este tema poderá estar relacionado com a tua relação contigo e com a tua autoestima. É importante questionar se gostas mais de ti ou daquilo que o outro te dá. E tem cuidado, pois por vezes aquilo que fazemos em troca de migalhas de atenção tem um preço elevado a nível psicoemocional.

  1. Hábito / rotina

No início da relação e principalmente quando começamos a viver com o/a nosso/a amado/a, tudo é novo e diferente, desde a forma de dobrar as meias à forma como fazemos ovos mexidos. Até pode ser que nesta altura achemos graça à pasta de dentes apertada no meio ou a tampas de sanita levantadas. Mas com o tempo vamos nos flexibilizando e entrando numa dinâmica mais familiar. Partilhamos rotinas e vamos criando hábitos. E com o hábito vem a dificuldade de o inverter e vem também a resignação: “já nos conhecemos, fica mais fácil”; “as coisas não são assim tão más”. Quando ficamos presos no hábito perdemos a vontade de fazer diferente, pois o conhecido torna-se mais seguro. Porque não experimentar fazer diferente, mudar a rotina, tentar “abanar” um pouco a coisa?

  1. Dependência

Podemos estar dependentes do outro a vários níveis. A dependência emocional, como já referi, está relacionada com a carência e com uma má relação connosco, ou seja, uma baixa autoestima e amor-próprio. A esta podemos associar a dependência psicológica, na qual poderá ou não existir manipulação por parte do outro. No caso de sermos submetidos a uma manipulação ou de cedermos a “jogos” psicológicos, a maior dificuldade é precisamente tomar consciência de que isso está a acontecer. Por vezes é tão bem orquestrado que fica difícil de perceber. Mas também temos de ponderar a dependência financeira, e esta é muito difícil de resolver. Conheço muitos casos de pessoas que ficam em relações porque não têm para onde ir viver. Mantém-se uma “paz-podre” com o intuito de permanecer numa situação da qual se quer fugir.

  1. Filhos

Muitos casais permanecem juntos não um pelo outro, mas porque têm filhos. Embora possa ser percetível que isto ocorra em algumas situações e em prole do bem-estar dos filhos, às vezes a relação está tão desgastada que o sofrimento de uma separação poderia ser preferível a viver no meio de uma guerra sem fim. Claramente que estou a falar de situações extremas onde os casais discutem em frente aos filhos, têm atitudes violentas, manipulativas ou de alienação dos filhos, principalmente crianças. Este não é um tema fácil, existem muitos casos, cada um com a sua especificidade e não é fácil tomar uma decisão de ânimo leve quando estão envolvidos os filhos, em especial se forem crianças. Se houver abertura para isso, experimentem fazer terapia de casal ou consultar um mediador de conflitos.

Então e agora?

O teu sentir é único, assim como a tua relação. Desta forma não existem receitas ou soluções mágicas. Estar numa relação difícil ou sair dela traz dor, invariavelmente. Por isso é importante perceber muito bem o que é que queres e o que será – eventualmente – melhor para ti. Tenta ler estes cinco pontos e perceber se te identificas com algum deles. De seguida foca-te nesse ou nesses pontos e tenta perceber: devo ficar porque estou a aprender e há potencial nesta relação ou já estou no fim de linha, onde já estamos num ponto sem retorno? A terapia de casal ajuda sempre, embora o objetivo não seja o de salvar a relação ou ficarem juntos, mas sim o de encontrar o melhor caminho para cada um dos envolvidos.

Aconteça o que acontecer, nunca te esqueças de que não estás só. Pede ajuda, a amigos, familiares ou pede assistência profissional, junto de psicoterapeuta ou com o teu médico / a.

Imagem DESIGNECOLOGIST em Unsplash

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