Saúde?
Farmácia

DATA

Saúde?

“A saúde não está na farmácia, está nas rotinas diárias.”

Incrivelmente ouvi esta frase nos desenhos-animados do meu filho. Achei brilhante. Vamos desde já colocar as cartas na mesa: sim, as farmácias são importantes; sim, os medicamentos têm um papel na recuperação da pessoa; sim, o que é científico é bom, como dizia a marca Nacional. Mas achei de facto brilhante esta frase, não fosse eu psicoterapeuta corporal.

Falamos muito de doença, de estarmos mal. Às vezes dizemos: “têm me doído as costas!”, e logo alguém vocifera que tem mais dores. Alvissaras a quem não se queixa! Rara é a ocasião em que falamos do estar bem e da prevenção. Roles de queixas desdobram-se nas conversas. Mas há também quem assobia para o lado. Casa roubada, trancas à porta? Sim. Não só pelas dificuldades financeiras que fazem muitas vezes adiar os exames de rotina, mas também pelo: “estou bem agora”; “sou saudável”; até a mítico “vou continuar a enfardar este tipo de comida porque nenhum médico me disse que não podia” (pese embora, caso diga, eu vou continue a comer). Não há uma mentalidade de prevenção, de cuidado e rastreio.

Cuidar da nossa saúde implica cuidar dos fatores ambientais. Alimentação, estilo de vida… E o que ocorre muitas vezes (não em todos os casos) é operar perante o sintoma, ou seja, já perante a doença concretizada. Não existe a mentalidade do cuidado prévio (genericamente falando), da evitação do problema. Achamos que acontece aos outros? Bem, quando nos acontece a nós ficamos aflitos, e dependendo do grau de gravidade, podemos efetivamente ficar à rasca…

No que diz respeito às dificuldades de ordem mental, a situação agrava-se. Por muito que uma doença física seja “aceite”, a doença (ou até em menor grau, a dificuldade ou desafio mental) não tem enquadramento no quadrado pequenino das cabeças das pessoas (ou empresas). Pior ainda quando se conjugam as duas ou quando, numa situação de doença física, as capacidades de lidar com isso estão afetadas. Urge olhar de frente para isto, mas envolve política, mudança de mentalidade e muita coragem.

Voltando ao facto de a saúde não estar na farmácia, é facto que ela está em nós, a cada momento em que escolhemos o que comemos, o que metemos nos nossos corpos, a atividade física que fazemos. Mas também a forma como lidamos com as nossas emoções, como as expressamos (e não guardamos), como lidamos com o nosso passado, história e traumas. Já basta de dizermos que psicoterapia é para os malucos, já chega dizermos que a terapia é um gasto de dinheiro. A psicoterapia reveste-se da possibilidade de criarmos uma vida saudável, assim como nas opções do dia-a-dia em relação àquilo que queremos ingerir, ao exercício que queremos fazer, aos rastreios e consultas de rotina que definitivamente, precisamos de fazer!

Foto de Roman Kraft em Unsplash

Mais
artigos