PSICOTERAPIA CORPORAL

Relações tóxicas
Relações

DATA

Relações tóxicas

Somos seres sociais e vivemos em relação. E a relação pode ser de vários níveis: familiar, de amizade, amorosa ou cooperativa (trabalho, vizinhança…).  Desde que nascemos que as relações são fundamentais para o nosso desenvolvimento social e, quando saudáveis, enchem-nos as medidas e preenchem-nos os afetos. No outro também existe um espelho e, nos timings certos, e com consciência, podemos aprender muito sobre nós próprios.

Mas as relações não trazem só aprendizagens e boas sensações. Algumas estão doentes e por isso trazem muitas dores de cabeça. E o diagnóstico pode ser múltiplo: expetativas; diferenças irreconciliáveis; timings e objetivos diferentes, entre muitas outras. Uma outra possibilidade é a toxicidade, algo que tem sido muito falado. Começando pela palavra: tóxico é algo que causa dano, que tem efeitos nocivos. Uma relação tóxica é então uma ligação que se estabelece entre uma ou mais pessoas e que é nociva ou tem malefícios para um ou mais elementos.

Quando falamos em relações tóxicas não estamos apenas no campo amoroso. As pessoas tóxicas estão em todos o lado: no trabalho, no grupo de amigos, mas também na família. Numa amizade pode ser aquele amigo que nos critica ou exige demasiado de nós. Na família, pelos laços estabelecidos, é por vezes muito difícil de gerir relações tóxicas, principalmente quando acrescem situações de codependência ou, numa situação mais dramática, casos de abuso e agressão.

Na maior parte das situações o problema das relações tóxicas não é só o mal que causam, mas o facto de que o “veneno” é destilado sub-repticiamente, de forma disfarçada, causando dificuldade na perceção do real dano, principalmente a nível psicoemocional. Então, muitas vezes não percebemos que estamos numa relação tóxica e podem até haver situações de manipulação nas quais a vitima dessa “toxina” se responsabiliza e se toma como culpada do que corre mal na relação.

Como reconhecer?

Quais são então os sinais de que estamos numa relação com uma pessoa tóxica? E como se caracteriza essa relação? Existem sempre variações de relação para relação, mas estes são os pontos principais:

  • A comunicação é difícil e confusa;
  • Quando estamos com essa pessoa, ou nessa relação, temos pensamentos, sensações e sentimentos negativos sobre nós e / ou sobre a vida;
  • As emoções que surgem são tendencialmente negativas ou pesadas: angústia, ansiedade, medo, raiva ou tristeza;
  • Há instabilidade e desarmonia na maior parte do tempo;
  • A pessoa tóxica apresenta incongruências a vários níveis: no que é dito, no comportamento e até mesmo no que planeia;
  • Surgem mudanças significativas no comportamento da pessoa “intoxicada”, como por exemplo: afastamento de outras pessoas, situações e / ou atividades;
  • Os momentos maus superam os momentos bons, em frequência e intensidade.

Não é fácil sair de relações tóxicas. Como já referi, por vezes estabelecem-se pouco a pouco, sem que a pessoa dê conta. E quanto mais se aprofunda a relação, mais embrulhada vai ficando na teia. Em muitos casos a baixa autoestima, dependência emocional ou a manipulação por parte do outro também dificultam o afastamento destas relações. Não podemos também esquecer que muitas vezes é difícil pela idade (por exemplo, filhos menores) ou dependência financeira.

O que fazer?

Sem simplificar: ficar ou ir embora? Antes de mais será preciso identificar estes sinais de alerta e tomar consciência do tipo de relação que existe. Para ficar e dar a volta à situação, é preciso trabalhar bidirecionalmente, ou seja, é necessário que a pessoa “tóxica” se consciencialize do seu comportamento e que o queira mudar. A terapia de casal ou familiar pode ajudar muito nestes casos.

Quando a decisão passa pelo término da relação, é importante identificar o que é necessário trabalhar para que se possa afastar da relação e fazer o seu luto, mas também cuidar de si e do que o/a levou a ficar enrolado na teia. Seja baixa autoestima, fragilidade emocional ou isolamento: a psicoterapia ajuda. Principalmente se é um padrão relacional. Estes processos não são fáceis. É preciso despir uma pele enquanto criamos outra. Mas essa mudança é possível.

Lembre-se: estes processos não são taxativos, pois a toxicidade não tem género, idade, orientação sexual ou etnia.

Foto de Önder Örtel em Unsplash

Mais
artigos