PSICOTERAPIA CORPORAL

As crises necessárias
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As crises necessárias

É natural não apreciar os momentos de crise interna que acarretam grandes mudanças. Temos de o assumir. Podem ser momentos estranhos e muito desconfortáveis. Quem é que gosta de se sentir perdido, sem saber o que fazer, muitas vezes roçando o desespero? Ninguém. Ainda assim, o que existe de mais valioso para avançarmos de forma certeira, é a crise. É como desarrumar tudo para depois colocar no lugar certo.

Primeiro dói. É algo agudo, que tem emoções alvoraçadas, comportamentos viciados e pensamentos repetidos. E dói porque não aceitamos. Estamos bem na infelicidade do conhecido e do confortável. Mas como a vida é muito sábia, lentamente nos vai mostrando que não podemos lutar contra a corrente. Gastamos demasiada energia e não chegamos a lado nenhum. Os movimentos repetidos que nos ajudaram a lidar com algo difícil deixam de ser suficientes. Vou dar um exemplo, um caso fictício. Imaginem alguém tímido, com baixa autoestima. Alguém com uma história pessoal de ficar na sombra, de se viver na “transparência”. Para se proteger desenvolve estratégias ou mecanismos de defesa que incluem continuar nessa sombra, mas isolado. é difícil o contacto com o outro, mas vai sobrevivendo psicoemocionalmente até chegar a adulto. E aqui a vida fá-lo sentir-se sozinho ou insuficiente. Este mecanismo já não chega: ele quer viver, ir para a vida, conhecer pessoas, quem sabe criar uma família. Chega a crise: como ir, quando quero ficar? Como procurar o outro, quando o outro me assusta?

E agora?

Com o crescimento vem a possibilidade de viver algo que poderá ter o intuito de libertar-nos destes conflitos internos. E as crises podem desencadear transições. E isso ocorre quando nos libertamos desses tais padrões antigos e, se estivermos atentos e conscientes, as crises podem trazer aprendizagens.

Abraçando o momento de crise, aceitando que ele existe, podemos olhar de forma mais clara e direta para dentro de nós. Criamos a possibilidade de reconhecer erros ou simplesmente trazemos uma maior clareza para observar determinados processos que estavam enraizados e que trazem disfuncionalidade. É como olhar para uma toca. Não sabemos que bicho está lá dentro e temos medo. Pode estar lá a baixa autoestima, como no caso fictício que referi, ou o medo, a depressão… E quem quer mexer nestas entranhas? Entrar na toca? Mas se não olharmos com atenção, se não entrarmos cada vez mais dentro da toca, mais dentro de nós, como vamos conseguir avançar, evoluir? E neste caminho, tão desafiante, pode surgir o pleno conhecimento de Quem Somos.

Foto de Joshua Hoehne em Unsplash

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