PSICOTERAPIA CORPORAL

Eu quero-me de volta
à tona de água

DATA

Eu quero-me de volta

Às vezes perdemo-nos de nós. Deixamos de ser quem éramos para sermos alguém que não queremos necessariamente ser. Ou então ficamos retidos no meio de um novelo desnovelado, uma confusão que por si só nos faz perguntar: mas quem sou eu afinal? Fica ainda mais complexo quando somos várias pessoas nos diferentes contextos. E com essa desinformação afligimo-nos a pensar que temos múltiplas personalidades! Descanso-vos aqui: existem algumas características nossas que sobressaem de acordo com o lugar onde estamos. Claramente que não podemos ser exatamente iguais no trabalho e em casa. O que mostramos numa festa não mostramos numa reunião de trabalho. Há efetivamente um fio condutor, a nossa personalidade, aquilo que somos, mas o que mostramos, a nossa máscara, isso já é outra coisa…

Seja porque motivo for, é importante perceber a origem: porque te perdeste de ti? Normalmente é um processo demorado, que não ocorre de um dia para o outro e que decorre de vivências complicadas. No contacto com a dificuldade e com o sofrimento, vamos tentando navegar o nosso barco. E quando o mar fica mesmo muito bravo, as manobras usadas para manter o barco à tona fazem-nos desviar do nosso Eu. Criamos uma aparência, uma montra com aquilo que queremos mostrar. Seja porque dentro dói demais ou até mesmo para nos adaptarmos ao outro. Querendo que o outro nos aceite, seguimos sendo um outro alguém, na expetativa de sermos recompensados pelo seu amor.

E eis que chegamos a um ponto em que não nos reconhecemos. Quem somos, afinal? É uma pergunta pequena e tão complexa e que acarreta uma resposta ainda mais complexa. Somos tanta coisa. Mas debaixo desta montra que insistimos em montar (muito evidente hoje em dia com as redes sociais), quem somos? No contacto com tudo aquilo que nos compõe, e não só o lado bonitinho (o que fazemos bem, os nossos dotes, o lado positivo), mas o que é que somos com tudo de bom e de mau?

Não só é uma pergunta de difícil resposta, como pode também existir um medo imenso de nos assustarmos ou de não gostarmos do que vamos encontrar. É aqui que a terapia pode ajudar, pedindo sempre que seja dado um salto de fé. De fé no processo que irá ser difícil, complexo, de demorada resolução, mas que poderá ajudar a ajustar os mastros, alinhar o leme, remendar o convés, mudar a corda à âncora e aprender a ler melhor os mapas que estão aí, no lado esquerdo do peito. O processo não evita as marés vivas, o mar revolto que salta por cima do barco, mas quando o barco está bem tratado, ele flui melhor, seja qual for o mar a navegar.

Foto de Osman Rana em Unsplash

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