Pensamentos POP-UP!

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Pensamentos POP-UP!

O que são os pensamentos intrusivos e o que fazer com eles

Já deste por ti, tranquilamente, num determinado contexto e, de repente, aparece um pensamento negativo, assim num ímpeto, como um pop-up, na tua cabeça? Por vezes pode até nem ter a ver com o que está a acontecer ou pode ser muito difícil de perceber conscientemente qual é a ligação. São pensamentos que deixam um amargo… de emoção, faz sentido? Podem despoletar emoções negativas intensas e influenciar o teu comportamento.

Vamos então perceber: o que são pensamentos intrusivos?

Pensamentos intrusivos são pensamentos indesejados, que podem ser perturbadores e que surgem na mente de uma pessoa de forma repetitiva. Quando surgem não existe um controlo consciente sobre eles, ou seja, é como se não fosse possível manter a porta trancada: eles avançam, impiedosamente e instalam-se na nossa cabeça. Podem ser intrusivos e intensos ao ponto de causar angústia significativa e interferir nas nossas atividades diárias.

Esses pensamentos podem ser de natureza negativa, violenta, obscena, preocupante ou até mesmo contraditória com as crenças e valores pessoais de cada um. Alguns exemplos de pensamentos intrusivos enquadram-se nos medos (preocupações exageradas com pessoas próximas; medo de não conseguir fazer algo ou de perder o controlo) ou situações / eventos traumáticos (imagens vívidas de eventos trágicos, mortes ou acidentes) ou na moralidade (blasfémias ou imoralidades assim consideradas pela pessoa).

Vejamos então de forma explícita, as características dos pensamentos intrusivos:

  • Causam desconforto: o conteúdo dos pensamentos e até mesmo a forma surpreendente como podem surgir, causa desconforto. Esta característica remete para a intensidade: podem ser leves ou geríveis e causar algum desconforto, ou podem ser extremamente perturbadores e trazer um grande sofrimento.
  • Involuntários e indesejados: os pensamentos intrusivos surgem de forma repentina, sem aviso prévio e sem escolha. Isto significa que não têm regras quanto ao momento, sítio ou contexto em que vão surgir!
  • Difíceis de controlar: dada a sua imprevisibilidade e involuntariedade, estes pensamentos escapam ao controlo da pessoa. Isto não significa que se transformem numa sentença e que não seja possível “driblá-los”! Vamos ver mais sobre isso, ali à frente.
  • Repetitivos: dependendo do grau, estes pensamentos podem se repetir, não só no seu conteúdo, mas também na sua frequência e na sua persistência (perduram em nós por algum tempo). Esta é uma característica que amplia o sofrimento associado aos pensamentos intrusivos, pois a pessoa não consegue parar de ter estes pensamentos, de ser invadida por eles.

Porque os tenho? Todos temos?

Esses pensamentos são um fenómeno comum e transversal ao ser humano. Assim sendo e geralmente, não são indicativos de problemas sérios de saúde mental. Todos nós experimentamos pensamentos intrusivos em algum momento de nossas vidas. No entanto, para algumas pessoas, esses pensamentos podem se tornar persistentes e causar sofrimento significativo. Quando os pensamentos intrusivos são persistentes, intensos e perturbadores, podem ser sintomas de perturbações de ansiedade, obsessivo-compulsivas ou de outras perturbações mentais.

Como em tudo, não nos podemos esquecer que somos todos diferentes e podemos vivenciar os nossos pensamentos com uma frequência e intensidade diferentes.

Na perturbação obsessivo-compulsivo, por exemplo, os pensamentos intrusivos desempenham um papel central. Nesta situação, as pessoas podem experimentar pensamentos intrusivos e obsessivos sobre contaminação, violência, religião, sexo, ordem e simetria, entre outros temas. Esses pensamentos podem desencadear comportamentos compulsivos, como por exemplo a limpeza, arrumação, contagens, verificações ou higiene.

O que fazer?

É importante ressaltar que os pensamentos intrusivos não definem a pessoa que os experimenta. Eles são apenas um aspeto da experiência mental e podem ser tratados com sucesso através de psicoterapia e em alguns casos, de psicofarmacologia. Relembro que estes pensamentos surgem em diferentes graus de intensidade, frequência e resistência e é importante avaliar de que maneira afetam a funcionalidade e qualidade de vida de cada um.

Nos casos em que alguém está a enfrentar pensamentos intrusivos que interferem significativamente na sua vida diária, é importante procurar ajuda de um profissional de saúde mental qualificado.

Ainda assim, ficam alguns passos para pôr em prática e com o intuito de combater estes pensamentos:

  • Observar e tomar consciência: para saber como lidar com algo da nossa vida interna, temos de nos conhecer bem. Que pensamentos pop-up é que me surgem? Quantas vezes surgem e qual é a sua intensidade? Há um tema em comum? Quando é que são mais frequentes? Será que há uma maior interferência no final do dia, quando estou cansada/o? Em que situações / com quem?
  • Aceitar e compreender: este passo pode ser desafiante, pois estabelece a necessidade de reconhecer que os pensamentos intrusivos existem e que, para já, não vão a nenhum lado. É também na aceitação que eu posso dar o passo para a compreensão: estes pop-ups são comuns e o facto de eles aparecerem não significa que vamos agir sobre eles ou que eles sejam verdadeiros.
  • Encontrar um espaço de tranquilidade: os pensamentos intrusivos são normalmente interruptores para emoções densas e comportamentos não saudáveis. Então, movimentos saudáveis de tranquilidade e harmonia ajudam a trabalhar nestes pensamentos. Respiração, meditação, técnicas de mindfulness e exercício são alguns exemplos. Mas poderás ser tu a encontrar algo que te ajude a encontrar um lugar de paz interna.
  • Pôr os pensamentos à prova: toma nota numa folha de um desses pensamentos intrusivos. Faz duas colunas: uma com factos a favor e outra com factos contra. E no fim verifica se o pensamento é mesmo acertado ou não. Não vale fazer batota!!!

 

Queres marcar uma consulta ou tens alguma dúvida? Contacta-me através do e-mail: psicorporal.bio@gmail.com

Podes ler mais sobre este tema no seguinte livro:

  • Wenzel, A. (2018). Inovações em terapia cognitivo-comportamental. Artmed

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