Talvez o gesto mais altruísta seja o “fazer” por nós. Quando trabalhamos o nosso lado mais sombrio criamos espaço para novas emoções, emoções essas mais positivas e mais benéficas para nós e para os outros que nos rodeiam. Ao atingirmos um patamar de tranquilidade podemos assumir uma nova expressão de nós mesmos. Esta nova expressão afectará mais o outro do que querer ajudar de forma forçada.
Para além de que o outro, se estiver numa encruzilhada, não pode nem deve ser forçado a ser ajudado se não estiver em posição de aceitar essa ajuda. É que por vezes não é só uma questão de querer ajuda, por vezes temos de nos levantar pelo nosso próprio pé, ao nosso ritmo e no momento certo. Quando há algo externo a forçar que nos levantemos mais rápido do que devíamos podemos estar a prejudicar os nossos joelhos que ainda não estavam preparados para suportar o peso do nosso corpo. Então, enquanto “ajudantes” devemos aguardar pelo pedido do outro, caso surja, e trabalhar nas nossas próprias dores, pois influenciamos muito mais quem nos rodeia com um sorriso disponível do que um esgar de impaciência que dita que estamos à espera que o outro nos agarre a mão para nós depois puxarmos.
Ser altruísta não é estar sempre de mão esticada à espera que alguém a agarre (e assim nos sentimos os heróis do dia). Ser altruísta é estar por perto, fazer o nosso caminho e esticar a mão quando nos é pedido, sem invadir o processo do outro. Não significa que devemos voltar as costas aos outros, mas pensem na diferença entre caminhar lado a lado e dar a mão quando necessário ou estar à frente da pessoa com a mão constantemente estendida: o outro assim não consegue andar porque não saímos da frente dele. Ajudar é também dar espaço para o caminhar do outro. E contagiá-lo com a nossa leveza é mais subtil e encorajador do que um empurrão.