No final de 2019 escrevi um texto com este título. Este ano não é para esquecer. Dizia que tinha sido um ano particular, para mim e para muitas pessoas que o tinham partilhado comigo. Longe estava eu de saber (embora sabendo) que a vida tem sempre o dom de nos surpreender. Sei que a vida é uma surpresa, mas este ano de 2020 saiu um belo embrulho. Decidi então reescrever este texto.
Podemos então voltar a dizer, como vi escrito há um ano, mas mudando os números: se não queres que 2020 termine, não o estás a viver corretamente.
Assisti a muitas crises emocionais de pessoas que não estão bem consigo próprias. Vi muitas relações terminarem, assim como problemas de saúde a despontarem. Acompanhei pessoas que perderam os seus empregos ou que se reinventaram. Vi pessoas a sentirem-se perdidas, desconhecidas de si próprias, sem rumo, ou simplesmente a quererem ser melhores, diferentes. Querem mudar de vida, alcançar o bem-estar. E a vida tem dado voltas e demonstrado que por vezes nem vale a pena fazer planos (e se isso tem sido verdade este ano!).
Vi dúvidas sobre o mundo, crispações, oposições, desinformações, medo. Sofri perdas. Morreram pessoas próximas. Animais de companhia que partiram. Vi pessoas a sofrerem essas perdas. Sistemas a reorganizarem-se. Tanta coisa que aconteceu, e parece que foi tudo num ápice.
Será um ano para lembrar?
Tem sido um ano duro, de grandes mudanças e ensinamentos. A vida a ensinar que o controlo é fictício. O que era já não é. Pensem em vocês nesta mesma altura no ano passado, o que mudou? E por vezes tudo isto vem com dor e dureza, os momentos de dificuldade acabam por ficar fixados e do sofrimento o Ser Humano quer fugir. Então, normalmente dizemos: este ano é para esquecer! Se é este o teu caso, vou trazer-te uma reflexão diferente, a possibilidade de fazer o contrário: este ano é para lembrar.
Tudo o que nos acontece pode ser uma aprendizagem, se quisermos e quando for possível. Costumam dizer que quando o aluno está pronto o mestre aparece. Poderá 2020 ser um grande mestre? Porque não olhar para tudo o que aconteceu este ano e perguntar: o que é que eu posso aprender com este ano que está a terminar? Claro que podemos (e devemos) refletir sobre qualquer ano que termina, mas agora em particular, que lições podes tirar? Para que sejas mais feliz, para que possas viver mais plenamente, fluindo saudavelmente na vida?
Não é para ampliar o sofrimento, obcecar ou cair na vitimização. É podermos incluir isso na nossa vida como parte integrante da nossa experiência, da nossa história e que nos vai ajudar para o futuro, para a pessoa que queremos ser, que queremos colocar no mundo e nas nossas relações. É também recordar o que aconteceu de bom, as conquistas que fizemos, as alegrias de despontaram.
Não sei o que o novo ano vai trazer. Não sei se vem aí paz, tranquilidade ou o “tudo de bom” que costumo desejar aos outros. Ninguém sabe.
Acabo o ano cansada, mas otimista. Não poderia ser de outra forma. Afinal, “nada se perde, tudo se transforma” (Lavoisier), e se somos natureza, também nos encontramos na nossa transformação.
Desejo-vos boas transformações!
Foto: abdul Quadir em Unsplash