Tomar a decisão de terminar uma relação e cumprir efectivamente a esse movimento, é de uma dificuldade imensa. Aparentemente, as relações são infelizes mas tenta-se salvar essa ligação até às últimas consequências. E os motivos são muitos: filhos, ter medo de ficar sozinho, ter medo de saltar para o desconhecido, entre outros. Por vezes vemos perto de nós, casamentos e relações que já não existem, mas que ainda assim lutam para continuar no mundo da aparência e da formalidade.
Esta problemática tem uma génese e um dos factores poderá estar relacionado com as histórias fantasiosas da infância, os contos de fadas e princesas, onde tudo termina bem. O problema dos contos de fadas é que, para as raparigas, mesmo que o carro se transforme numa abóbora, vamos ser felizes para sempre, e na vida real isto não é assim. A abóbora já se arrasta desmaiada e tem um ar mais cadavérico e assustador do que as abóboras do Halloween. A expectativa é sempre a de que a coisa um dia vai resultar, e insiste-se até à última gota. E no fim temos relações inexistentes: apenas duas pessoas que dividem (eventualmente) o mesmo espaço e o mesmo ódio um pelo outro. Alguns homens, por seu lado, pulam de casa em casa à procura do tal pé especial para o sapatinho.
Contudo, e para alguns casos, a solução não passará pelo “separem-se e vivam felizes para todo o sempre”. O segredo está mesmo no processo e será importante questionar: eu fico preso nas relações e não consigo sair? Perdi a minha individualidade? E a cereja no topo da abóbora: sou feliz? Não me refiro ao feliz-a-toda-a-hora, mas ao feliz nas coisas simples, ao feliz de coração cheio e com a barriga a sorrir. E é entre o decidir ir ou ficar que vamos crescendo e nos conhecendo melhor.