A decisão de ter um filho

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A decisão de ter um filho

A Mãe carrega um filho dentro de si durante nove meses e mais uns pozinhos. Depois de nascerem, os filhos continuam a ser carregados durante uma vida. Não é necessariamente mais fácil, nem mais leve. Os pesos são diferentes e as formas de pesar também. Em alguns casos há um Pai presente que compõe a tríade e completa esta balança, permitindo que o aumento da carga seja motivo de alegria e contemplação, mas também de receios e contendas. A questão é que as famílias não são as mesmas de quando eramos nós os filhos pequenos, e quanto mais para trás andamos, maiores as diferenças que podemos encontrar.

A vida corre rápida. Também as mudanças entre gerações são cada vez mais rápidas e disruptivas. Quantas vezes pensamos e comentamos: quando tinha a idade do meu filho não existiam telemóveis, computadores… E os nossos pais dizem-nos que na altura deles não havia televisão, o homem ainda não tinha ido à Lua e havia fome de comida e de nutrição. Os tempos mudam e os relógios voam.

Muitas coisas se tornaram mais simples, desde o acompanhamento dos partos às fraldas descartáveis.

Mas será que a decisão de ter um filho também se tornou mais simples? Em 2014, a taxa de natalidade[1] era, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, de 7.9‰. Para estabelecermos uma pequena comparação, em 1981 era quase o dobro: 15.4‰. Esta permilagem refere basicamente quantos bebés nascem por cada mil habitantes e como se pode verificar, o número é muito reduzido.

Para além de se decidir ter filhos cada vez mais tarde, os problemas de fertilidade são cada vez maiores assim como é maior a dificuldade em tomar uma decisão. As relações não têm a mesma estabilidade formal, reforçado pelo aumento do número de divórcios ou de famílias desestruturadas.

A crise financeira faz temer o futuro e não facilita na hora de tomar a decisão de ter um filho ou repetir a experiência de ter mais filhos. De facto, Portugal não está neste momento a assegurar a substituição de gerações que só ocorre com uma média superior a 2 filhos por casal. Outra motivação que também tem surgido é um sentido de dificuldade em decidir trazer uma criança para um mundo tão desafiante.

Então, como decidir? O lado biológico ajuda: há efetivamente um relógio biológico que toca, tanto nos homens como nas mulheres e que nos urge a manter vivo o nosso ADN. É possível, isso sim, satisfazer a vontade biológica quando, com consciência e assertividade, podemos tomar a decisão firme de sermos pais. É preciso pesar muita coisa, quer na balança, quer na carteira. No entanto e remetendo para o relógio que teima em tocar, quando não queremos ter filhos, não é fácil desligar o alarme de algo que não temos acesso e que reside bem no interior do nosso corpo.

E como respeitar os que não querem ter filhos? Essa é a parte mais simples: respeitando. Alguém que decide não ser pai ou mãe tem esse poder de decisão, tem as suas motivações, das mais superficiais às mais profundas e, creio, nunca poderá ser intitulado de egoísta. Uma vez ouvi uma mulher dizer a outra: “uma mulher só é mulher depois de ser mãe”. Não há comentário mais injusto e errado do que este, principalmente quando é dito a alguém que na altura lutava com dificuldades em engravidar.

Uma mulher é uma mulher. E pode ser mãe ou não. Como também pode ser costureira, piloto de aviões ou polícia. E é quando nos consciencializarmos que podemos ser tudo que vamos perder este medo de estar no nada.

Decidam em consciência e presença plenas aquilo que é num dado momento o melhor!

 


[1] A Taxa Bruta de Natalidade refere o número de nados-vivos ocorrido durante um determinado período de tempo, normalmente ano civil, referido à população média desse período.

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