Aqui e agora?

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Aqui e agora?

Desde há algum tempo e através de inúmeros autores, como Eckhart Tolle, autor do livro “O Poder do Agora”, que se fala em estar “aqui e agora”. O mundo ocidental recebeu esta dádiva do conhecimento sobre estar no momento presente sem estar agarrado ao passado, que não pode mudar, e sem se perder no futuro, que é desconhecido. Acrescentando o aqui, podemos remeter para a importância da corporificação onde, em vez de nos perdermos nos nossos pensamentos, estamos em contacto com o nosso corpo e tudo o que compõe (pensamentos incluídos!), há um território físico onde nos encontramos e onde nos sentimos presentes. Mas, como em tudo na vida, Tolle informa-nos que também aqui é preciso ter conta, peso e medida, ou seja, obter algum equilíbrio e clareza sobre o que é estar no aqui e no agora.

De facto que estar aqui e agora é promover uma certa liberdade das amarras neuróticas do nosso passado, da nossa história, assim como sentir o desprendimento do controle das coisas futuras, nebulosas e desconhecidas. No entanto, é importante reconhecer que é muito difícil chegar a um estado de quase iluminação no qual estamos no aqui e agora a todo o momento. Ainda assim, na busca por este el dorado, creio ser importante encontrar um equilíbrio saudável, ou seja, neste trio – passado, presente e futuro – não ficar só pelo cantor, pois sem os outros não temos a banda completa.

Entrar num registo de procurar o presente renegando o nosso passado é um erro. O nosso passado existe e acompanha-nos. É a nossa história e é de onde vimos. Por vezes temos traumas escondidos ou existem coisas das quais nos envergonhamos ou arrependemos, mas estão lá. Fazem parte da nossa história e moldaram a nossa forma de ser e de estar. E virar as costas a algo que nos trouxe até aqui é sair de casa sem chapéu-de-chuva quando já está a trovejar.

O mesmo se passa para o futuro e aqui o grande erro é viver numa espontaneidade falsa na qual não importa o amanhã. Sim, de facto não é bom dar corda à neurose da expetativa, mas fazer planos não tem porque ser neurótico. Pensar nos nossos projetos futuros, o que queremos para nós e como organizar a próxima semana na agenda não é ser rígido ou controlador. E fugir das responsabilidades com a capa do “aqui e agora” também é uma armadilha que pode surgir.

Como em tudo o que é objeto de reflexão importa sempre olhar para nós, em determinadas temáticas e questionar: onde está o equilíbrio, para mim?

Foto de Noah Silliman em Unsplash

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