A comunicação é acessível, constante e fundamental nas nossas vidas. Ainda assim, a verdadeira escuta tornou-se uma competência cada vez mais rara. O ouvir, efetivamente. Com que frequência nos encontramos a ouvir apenas para preparar a nossa resposta, em vez de realmente tentar compreender o que o outro está a dizer? Quantas vezes maquinamos e enumeramos a retaliação, em vez de ouvir o outro? Esta atitude é comum e afeta não só a qualidade das nossas relações, mas também o nosso crescimento pessoal e profissional. Sendo a comunicação algo tão basilar ao ser humano, é esperado que afete todos os contextos onde nos inserimos.
A armadilha da escuta reativa
Ouvir para responder é um comportamento automatizado, ou seja, pode surgir repentinamente e de forma inconsciente e repetitiva. Muitas vezes, durante uma conversa, enquanto o outro ainda fala, já estamos a formular a nossa resposta mentalmente. Ficamos presos num tipo de escuta fragmentada onde o que mais importa é ganhar a discussão, defender um ponto de vista ou mostrar conhecimentos. No entanto, o verdadeiro objetivo da comunicação é a compreensão mútua e não a imposição de ideias. Ao nos impormos ao outro, não existe uma comunicação fluida e saudável.
Ouvir com empatia
Ouvir para compreender requer um estado de presença plena, consciente e empática. Isso significa concentrar-se inteiramente no outro, sem interrupções mentais ou julgamentos precipitados. Envolve desacelerar o sentido de urgência e a necessidade de se sobrepor. A escuta empática envolve:
- Manter o foco no orador: desligar distrações externas e internas. Estas são ruído que interfere na clareza.
- Usar a linguagem corporal: manter o contacto visual e fazer pequenos gestos que incentivem o outro a continuar.
- Validar o sentimento: reconhecer as emoções expressas sem precisar de concordar ou discordar imediatamente.
Este tipo de escuta cria uma atmosfera de segurança e aceitação, promovendo a construção de vínculos mais profundos.
Uma dica para pôr esta escuta empática a funcionar é ir respirando e recordando a frase: ouvir para compreender, não para responder.
Interjeições como “hum”, “uhum”, “hã” ou “ah” são usadas para expressar emoções, reações ou para indicar que a pessoa está a ouvir e a acompanhar a conversa. Estas interjeições funcionam como um sinal de escuta ativa, mostrando que o ouvinte está atento sem interromper o fluxo de comunicação.
Essas expressões cumprem uma função social importante e também são classificadas como marcadores discursivos, que ajudam na dinâmica e fluidez da interação verbal.
Os benefícios de ouvir para compreender
A prática da escuta atenta e genuína traz várias vantagens:
- Fortalece as relações interpessoais: as pessoas sentem-se valorizadas e respeitadas.
- Reduz conflitos: compreender as necessidades e perspetivas do outro facilita a resolução de mal-entendidos.
- Melhora a comunicação: uma escuta ativa resulta em respostas mais ponderadas e significativas.
- Favorece o desenvolvimento pessoal: ao ouvir com atenção, aprendemos com a experiência e o conhecimento dos outros.
Como cultivar a escuta ativa
A escuta ativa é uma competência que pode ser desenvolvida com prática e consciência:
- Pratique a pausa: antes de responder, permita um breve silêncio para processar o que foi dito.
- Reflita o que ouviu: resuma ou parafraseie a mensagem para confirmar a sua compreensão.
- Coloque perguntas abertas: incentive o orador a aprofundar o tema em vez de oferecer soluções imediatas.
Conclusão
Ouvir para compreender é uma habilidade transformadora, tanto em contextos pessoais quanto profissionais. Quando escolhemos escutar de forma plena e com empatia, criamos um espaço onde a comunicação flui com mais significado e menos tensão. Compreender verdadeiramente é o primeiro passo para qualquer interação autêntica e conectada.
Foto de Brett Jordan em Unsplash