PSICOTERAPIA CORPORAL

Relações quentes, corações frios?

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Relações quentes, corações frios?

Os problemas de compromisso são uma parte considerável e inerente à maior parte das perturbações psiquiátricas e as questões de compromisso são cruciais no decurso da psicoterapia.” – Scott Peck

Muitas relações amorosas não têm entrega nem intimidade. Talvez mesmo a grande maioria delas. Algumas relações são superficiais, flings de verão sem estação marcada, onde a versão aparente de um se encontra com a versão aparente do outro: nada é profundo, mas tudo é intenso. Tudo é à flor da pele, mas nada chega ao cheiro do coração. Na aparência somos máquinas, temos máscaras que assumimos como papéis principais, escondendo dos outros, e de forma automática, a dor e o sofrimento do Ser. Não comunicamos verdadeiramente intenções, sentimentos e valores.

O mesmo acontece em algumas relações mais “oficiais” e até mesmo duradouras. O tempo não é testemunha da profundidade, assim como o grau de compromisso que não revela verdadeiras intenções. Scott Peck coloca a transição entre a paixão e o amor de uma forma muito interessante. Primeiro surge a paixão, que tem um prazo de validade e que termina a uma dada altura, podendo desembocar no fim da relação ou na transformação para o amor genuíno, sendo esta uma fase posterior. Enquanto que na paixão há uma fusão entre os dois enamorados, no amor genuíno há espaço para o “ressurgimento” da individualidade, sendo possível, para cada um dos parceiros, estar consigo próprio num ambiente de verdadeiro respeito pelo espaço e tempo do outro.

Um dos grandes conflitos surge quando o sentimento de paixão se vai embora e não aceitamos o momento de amor genuíno porque tentamos, em vão, repescar as sensações intensas do início da relação. Outros surgirão quando não queremos recuperar a nossa individualidade, que ocorre nas relações co-dependentes e simbióticas. E aqui existem dois lugares definidos: o parceiro mais ativo, e o menos ativo, que é aquele que depende do primeiro. O parceiro dependente vive na crença de ter uma inabilidade tremenda em funcionar sozinho. Quando algo acontece ao parceiro ativo, normalmente há uma grande crise para o parceiro dependente, que se vê desamparado e incapaz de fazer sozinho aquilo que podemos considerar trivial. Ou então, por vezes, quando é chamado ao desembaraço, o parceiro dependente liberta-se das amarras das crenças e avança destemido para a vida.

É interessante olhar para as nossas relações e refletir sobre estas temáticas. O que tenho eu, na minha relação amorosa? Há algum padrão repetitivo nas minhas relações? Que ligação têm estas situações com a minha relação com as outras pessoas? E como posso olhar de forma mais estruturada para tudo isto?

Foto de Ileana Skakun em Unsplash

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